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  • Foto do escritorLilian Primi

06 de janeiro: Acta Diurna, Efemérides ou Jornal dos Sábios

Atualizado: 11 de jan. de 2023

Pensando no sentido das coisas, como me sugeriu o professor Leonardo, fiz uma rápida pesquisa sobre a origem do jornalismo, mais precisamente do repórter. A busca inicial e genérica abriu algumas rotas de fuga, perigosamente atraentes:

A primeira: a profissão tem uma gênese difusa, e varia conforme o conceito que o formulador tem dela. Há quem aponte Homero como primeiro repórter, autor de Ilíada, um relato de 51 dias da guerra de Troia, que seria a primeira reportagem conhecida (Emile Boivin, La Histoire du Jornalisme - 1949). É preciso considerar que Ilíada é na verdade, poesia, e também que há dúvidas sobre a autoria e mesmo sobre a existência real de Homero. Ele teria vivido por volta do século VIII a.C. na Jônia (atualmente, região da Turquia).

Voltando ao exercício proposto pelo professor Leonardo, de "pensar no sentido das coisas", o primeiro veículo impresso a se autodenominar "jornal" logo no título foi o Journal des Sçavants (Jornal dos Sábios), de Jean-Baptiste Colbert, ministro de Estado de Luís XIV. O Rei Sol, provavelmente ancestral dos marqueteiros. Segundo a Wikipédia, é a "mais antiga revista científica da Europa" ... publicada em Paris pela primeira vez em 5 de janeiro de 1665 sob a forma de um boletim de doze páginas, onde anunciava seu objetivo de fazer conhecer "o que acontece de novo na República das letras". Thais Mendonça (Cronologia da Notícia - de 740 a.C a 2020 - II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho - 2004) conta que era vendida nas feiras e lojas, continha veleidades intelectuais e que seu objetivo era fortalecer o poder monárquico e incentivar as artes e as ciências.

Encontrei ainda alguém citando as ideias da jornalista Maria Cecília Guirado, que aponta o português Pero Vaz de Caminha como o primeiro repórter do Brasil e a sua Carta do descobrimento, escrita em 1500, a primeira reportagem na história do país. Para ela, o Diário da Navegação de Pero Lopes de Sousa (1530-1532) e o Tratado da Província do Brasil, de Pero de Magalhães de Gândavo (1576), também são textos de cunho jornalístico, já que traduziram "a realidade que brotava do aparente paraíso". Pensando assim, podemos considerar os maravilhosos relatos de viajantes estrangeiros sobre o novo continente, publicados do século16 ao 18, como livros-reportagem. Como os diários de Hans Staden, um dos personagens mais incríveis desta época e que poderia facilmente se passar por repórter. Houveram muitos outros viajantes por estas bandas nestes primeiros séculos de Brasil. A Biblioteca da Câmara tem uma ótima seleção, alguns ricamente ilustrados e pelo menos um, Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens / Recueil de planches coloriées d'animaux du Brésil, do príncipe e naturalista alemão Alexander Philipp Maximilian, (1782 - 1867), publicado em fascículos.

No Brasil, Euclides da Cunha é apontado por muita gente como o primeiro repórter, por conta da sua cobertura da guerra de Canudos para o Estadão, que posteriormente resultaria no romance Os Sertões, considerado uma obra prima da literatura nacional. Mas na época em que Euclides trabalhava como repórter (ou colunista) para o Estadão, muitos outros faziam o mesmo - as vagas das redações nesta época eram divididas entre jovens escritores e aspirantes a políticos. E todos registraram os impactos dos avanços tecnológicos que aceleravam a vida na virada do século: Euclides escreveu que estávamos “condenados ao progresso”, sob o risco de desaparecermos enquanto nação; João do Rio, também por meio de reportagens e livros, denunciou as más condições de vida e trabalho de grande parte da população, que permaneciam a despeito deste progresso; Olavo Bilac enalteceu os tempos modernos, ao mesmo tempo que os temia.

E antes de todos eles, na última década do século 19, Machado de Assis faria a definição mais precisa do impacto desta aceleração tecnológica nos prolixos textos até então publicados nos jornais: “não tínhamos ainda esse cabo telegráfico, instrumento destinado a amesquinhar tudo, a dividir novidades em talhadas finas, poucas e breves”. José de Alencar, Raul Pompéia, Castro Alves, entre outros, foram seus colegas e ganharam destaque ocupando, muitas vezes, cargos como redatores e chefes de redação.

Nesta seara, acabei reencontrando * o professor José Marques de Melo, que descreve o nascimento e a evolução do jornalismo no Brasil em "Pensamento Jornalístico: a moderna tradição brasileira", leitura que me absorveu por completo e encerrou este dia de estudo.


* Conheci o professor Marques de Melo nos anos de 1980, ainda na faculdade, por conta de um Encontro de Comunicação que estava organizando, e de que ele participou. Hospedado nas repúblicas dos estudantes, ele terminou muito amigo de todos e manteve o contato conosco até a formatura.



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